terça-feira, 17 de novembro de 2009

Anjo Urbano

Mais um trabalho do artista plástico Joe Nunes.
Vocês podem conferir melhor seus trabalhos no blog do artista!

Obra de Joe Nunes

entrevistar Joe Nunes


"Apreciar os quadros de Joe Nunes é aprender como se concretiza a estética da plurisignificação, é olharmos para um espelho transcendental: libertamos idéias por meio de um quid pro quo com as obras de arte desse pintor radicado no Rio Grande do Sul. Um espelhamento simbólico que nos leva a uma compreensão do mundo e de nós mesmos, metaforicamente, como toda grande obra de arte deve ser".

Essas palavras são do jornalista Eduardo Amaro, que publicou o texto no site Assis Notícias, intitulado: Joe Nunes e a estética da plurisignificação plástica. Digo: E entrevistar Joe Nunes? É apreender outros olhares sobre o próprio olhar, sobre o que o artista considera suas obras. Que não procura dar um significado preso no que tá posto na imagem. O que está ali é tudo que disserem, até o nada que sentiram, não importa...Mas impossível não sentir nada!
Nossa preocupação era em torno do nosso tema, pois afinal, estamos a falar também da falta de visão, e nosso entrevistado já havia deixado claro, o enfado com algumas abordagens a respeito de sua obra e sua "baixa visão".
Não queríamos falar com o "ceguinho que pinta", mas com alguém que já teve e tem muitas experiências sobre o olhar.
No decorrer da entrevista, fiz a pergunta "gasta", se haviam muitas diferenças nas suas obras, antes e depois da perda parcial da visão, ele falou sobre as percepções de outras pessoas que se dedicaram a achar tais diferenças, mas não afirma convicto que mudaram significativamente por esse fato, e sim por um amadurecimento perante a vida e suas próprias convicções que não convictas estão sempre mudando com o tempo e a experiência.

Na próxima postagem, imagens de alguns trabalhos do "antes", gentilmente cedidas por Joe.

entrevista desenhada

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Aqueles que vêem sem ver

Todo mito tem um fundo de verdade - não me lembro quem disse isso pela primeira vez, nem quando. A crença em todos os deuses pagãos antigos provavelmente eram reflexo do maravilhamento de um Homem que buscava a origem de fenômenos naturais. Provavelmente, algum grego antigo ficou mesmerizado e intrigado com o fenômeno do raio elétrico, antes de concluir que havia um sujeito grandalhão de barbas e cabelos encaracolados chamado Zeus, que ficava disparando aquelas fagulhas branco-azuladas que poderiam destroçar um ser humano. Outro viu aquela bola de fogo incandescente no céu, e percebeu que só podia ser um carro que transportava um ser fantástico chamado Apolo. Os celtas acreditavam que todos esses deuses eram manifestações de forças da Natureza: "todos os deuses são Um só", afirmavam eles.

Mas o que isso tem a ver com a cegueira e o tema de Visão de Um Sonho?, você pode se perguntar. É que nesse panteão antigo, encontramos situações que são metáforas para coisas até mesmo da nossa vida cotidiana. No nosso caso, vejamos o mito do titã Argos: filho da ninfa Io e de Arestor, Argos nasceu com nada menos do que cem olhos, espalhados por todo o corpo. Por isso era chamado de "Panoptes", que em grego significa "Aquele que tudo vê". O titã enxergava por todas a partes do seu corpo. Isso nos remete ao fenômeno científico no qual as pessoas privadas de visão apresentam um desenvolvimento espantoso dos outros sentidos: paladar, olfato e, proeminentemente, da audição e do tato, como uma forma de compensação pelo sentido que lhe falta. Como Argos, o deficiente visual "enxerga" com as outras partes do corpo. Não raro, os portador de deficiência visual apresenta um capacidade de percepção que transcende a das pessoas com todos os cinco sentidos funcionais.



Joseph Campbell nos afirma em O Herói de Mil Faces que todos os mitos, de certa forma, se repetem, com algumas variações. O mito de Argos nos remete à uma das áreas mais férteis da mitologia moderna, na visão de Campbell: as histórias em quadrinhos. Mais precisamente, o Demolidor: na sua vida civil, Matt Murdock, um advogado que perdeu a visão em um acidente na adolescência. Mas os outros sentidos de Murdock desenvolvem-se de forma quase sobrenatural - seu tato pode lhe "mostrar" a cor de qualquer objeto pelo calor que irradia; seu olfato delicado permite a ele inclusive uma capacidade de localização espacial, apenas pelo cheiro dos objetos; e sua audição pode lhe indicar se um homem mente apenas pelo ritmo dos batimentos cardíacos, além de também poder gerar uma espécie de "mapa em 3D" através do velocidade de reflexão dos sons (como o "sonar" dos morcegos). E o herói faz uso dessa percepção avançada da realidade lutando contra o crime sob a identidade do Demolidor, que "voa" em acrobacias extraordinárias ("Ainda bem que sou cego", diz o personagem em certa história. "Se eu pudesse enxergar, dificilmente teria coragem de fazer o que estou fazendo agora.") O Demolidor tem o mérito de ser o primeiro super-herói dos quadrinhos com uma deficiência física - e o primeiro a tratar o deficiente visual como alguém que pode fazer a diferença na sociedade sem se deixar abater por sua limitação.



Claro, tudo isso são mitos e versões... como diremos, "engrandecidas" da realidade. Mas sua moral, seu sentido, é muito claro: uma pessoa cega pode não perceber o mundo como percebemos. Mas isso não a impede de, à sua maneira, ter a percepção tão ampla e rica do mundo em que vivemos quanto nós - um fato que estamos começando a perceber agora.